Supergirl: Mulher do Amanhã - porquê você deve ler hoje!
- cassianimotta
- 27 de jan.
- 5 min de leitura
Supergirl: Mulher do Amanhã é muito mais do que uma HQ sobre uma heroína; é uma reflexão poderosa sobre vingança, perdão e esperança.

Nos último dias os fãs da DC ficaram empolgados com a primeiro foto da nova Supergirl no estúdio. Milly Alcock assume a capa da nossa kryptoniana favorita.
Supergirl: Mulher do Amanhã é uma HQ que explora os limites do perdão e as consequências da vingança. Inspirando o próximo filme da DC, a obra escrita por Tom King combina uma narrativa intensa com uma arte deslumbrante, entregando uma experiência que emociona e provoca reflexões. A arte ficou a cargo dos brasileiros Bilquis Evely e Matheus Lopes
Preciso destacar que a capa com um fundo preto e a Supergirl parada, flutuando no ar, já é um espetáculo por si só. A capa e o cabelo voando, mesmo no vácuo do espaço, enquanto ela parece observar, pensativa, algo ao longe, é um trabalho muito bem feito e já expressa a essência da super-heroína: muito forte fisicamente, um tanto teimosa, mas profundamente humana em sua empatia.

A jornada de Supergirl e Ruthye
A história é conduzida por Ruthye, uma jovem alienígena que viu seu pai ser brutalmente assassinado por alguém acolhido por sua família. Seu coração ferido é tomado pelo ódio e, em busca de vingança, ela encontra Supergirl, que está celebrando seus 21 anos em um planeta distante, tentando esquecer suas próprias dores. Apesar das diferenças, as duas formam uma aliança improvável, viajando por mundos devastados para capturar o assassino.
É logo na segunda página que Ruthye menciona uma atitude inesperada da Supergirl, já nos contando o final da história. Krem, o assassino, destruiu uma parte insubstituível da vida de Ruthye e ela estava decidida a fazê-lo pagar e nessa busca por vingança, procurando por quem possa fazer este trabalho, ela encontra uma mulher que é reconhecida em todos os lugares e vive entre o amor e o ódio daqueles que a encontram.
Supergirl, Kara, está completando seus 21 anos e, para isso, atravessou a galáxia para comemorar e afundar algumas mágoas em bebida. Seu primo é sempre lembrado como o último filho de Krypton, a pobre criança que foi enviada para outro planeta, mas Kara cresceu com sua família, construiu uma vida, apenas para ver tudo que ela mais amava ser levado dela. Aquela jovem lutava com todas as suas forças e, a cada vez que as coisas pareciam se estabilizar, outra tragédia se abatia sobre ela. Isso continuou acontecendo até ser enviada para a Terra.
Ruthye e Kara são duas pessoas que, em pouco tempo de vida, passaram por muita coisa, mas a Supergirl vê nesse encontro uma oportunidade de auxiliar outra menina alienígena que, de forma diferente, viu seu mundo desabar. As duas viajam pelos mais remotos lugares procurando por Krem dos Montes Amarelos que, com seu grupo, destruiu cidades inteiras e sempre parece que Supergirl chega tarde demais para conseguir resolver algo. Mas sua persistência, ou teimosia, é algo admirável para Ruthye que reconhece seu bom coração e a vontade de contribuir com aqueles mundos que nem sempre recebem as duas de braços abertos.
Uma das cidades onde elas se hospedam é sutilmente hostil com as forasteiras, aquele lugar pacato, com pessoas azuis tão comuns, esconde um segredo terrível de ódio aos roxos. Alienígenas azuis e roxos, exatamente iguais em sua fisiologia e formato, mas não podiam suportar a diferença de cor, algo semelhante à discriminação racial e étnica no mundo real. Kara se depara com sociedades que rejeitam sua ajuda simplesmente por ela ser uma forasteira, reforçando a ideia de que heroísmo muitas vezes não é recompensado, mas é justamente isso que faz um herói, fazer o bem independente da situação.
Um final ambíguo
Quase ao final da história, Supergirl finalmente consegue prender Krem, e, confiando que Ruthye é capaz de controlar seu desejo de vingança, ela segue lutando para proteger mais um planeta atacado pelos parceiros do cruel assassino. Mas as coisas não saem como o esperado e, após derrotar os Bandoleiros, a heroína parece cansada demais, sem esperança… Talvez seja o momento de contrariar tudo aquilo que ela mesmo pregava… Toda a crueldade do universo foi revelada a ela nessa jornada, talvez existam pessoas que realmente não merecem viver…
Com um final surpreendente e que pode gerar horas de discussão, Supergirl Mulher do Amanhã, é capaz de arrancar lágrimas e logo nos fazer tremer de indignação e raiva com as injustiças que são tão comuns aqui mesmo na Terra.
Possível spoiler
Caso não tenha lido a história e preze pela surpresa, sugiro pular o próximo parágrafo.

O desfecho é um exercício de interpretação.
A genialidade da ausência nesse quadrinho é especial. Logo no início da história Ruthye diz “Mas Supergirl aplicou o golpe fatal e Krem caiu morto no chão antes que eu pudesse falar”, mas essa cena nunca apareceu de fato. Isso nunca aconteceu. Narrada do ponto de vista de Ruthye, descobrimos que a jovem mentiu ao afirmar que Supergirl matou Krem.
Esse final desafia o leitor a questionar a narrativa e suas próprias perspectivas sobre justiça e vingança.
Ao ler a última página, após o reencontro da Supergirl com uma Ruthye já idosa, é revelado que Krem foi enviado para a zona fantasma e passou centenas de anos por lá, repensando toda a crueldade de seus atos. Arrependido, ele tem a permissão de retornar e em um desfecho que pode parecer contraditório à primeira vista, Ruthye acerta o homem com sua bengala enquanto ele lhe implora por perdão. As duas mulheres se afastam, mas pode-se ver o vulto de Krem erguendo a mão com dor, demonstrando que ele não estava morto.
O que me fez refletir sobre esse final é a jogada da escrita com a arte que nos induz a questionar se, depois de todos os discursos sobre perdão e respeito à vida, a história simplesmente seria encerrada com um homem morto por vingança. Mas quando paramos para pensar que a narrativa é feita em primeira pessoa por uma personagem carregada de sentimentos, inclusive com a mentira das primeiras páginas dizendo que a Supergirl havia matado Krem, temos a confirmação de um narrador não-confiável. Isso, unindo-se à subjetividade do próprio leitor, podemos ter diversas interpretações.
Eu, pessoalmente, acredito que, embora Krem possa ter se arrependido, Ruthye não o perdoou pela morte de seu pai e como um gesto de indignação contra o homem à sua frente, ela o atacou com sua bengala. Já a falta de ação da Supergirl diante disso não é cruel, apenas uma permissão para Ruthye expressar seu sentimento, especialmente considerando que, independente de arrependimentos, Krem trouxe sofrimento incomparável para inúmeras famílias.

Conclusão
Supergirl Mulher do Amanhã é uma história sobre a complexidade das emoções humanas, sobre como o perdão nem sempre é uma escolha fácil, e sobre a luta contínua por esperança em meio à adversidade. Também é um lembrete para continuarmos caminhando de cabeça erguida mesmo com as situações problemáticas do nosso mundo, o preconceito, o desprezo pela vida, o sexismo, já que, mesmo com tudo isso, ainda há um amanhã a ser vivido e ele pode ser mais brilhante.
Se você busca uma HQ que combina emoção, reflexão e ação, esta obra é leitura obrigatória – especialmente antes do lançamento do filme!
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